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quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Todas as cartas de amor são ridículas.

Todas as Cartas de Amor são Ridículas

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa



Algumas cartas de amor encontradas nos livros não são exatamente ridículas, são documentos de uma época onde cortejar uma donzela, por anos, tomar a mão, roubar um beijo, prometer casamento e tentar adiar a promessa ad infinitum, mandar cartas e flores, outro tanto de bilhetes, com frases típica da época  "sempre teu", "com todo o meu amôr" grafado com circunflexo. Rendia ao gajo um belo processo onde a prova era a coleção das missivas, metódicamente guardadas pela  noiva.  
Ofendida, maculada sua honra, a noiva entrava com um  pedido de indenização, pelos anos em que ficou afiar na berlinda,  e nada do casório acontecer.
Cartas de amor são sentenças.  Outros tempos outros dias.

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