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quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

Janer Cristaldo


Cristaldo é o meu cronista favorito, leio todos os dias o seu blog. Ontem quando me encontrava   indignada com a miserável condição humana, me lembrei  das Viagens de Gulliver e em especial de Lapúta a ilha flutuante que suga o continente. Deixei a febre passar,  o balsamo foi a leitura de suas antigas crônicas.
Terça-feira, Fevereiro 19, 2008

INTERPRETAÇÕES SEGUNDO
OS ACADÊMICOS DE LAGADO



Quem me acompanha, sabe que um de meus livros de cabeceira é As Viagens de Gulliver, de Swift. Pois bem, em sua visita à Academia de Lagado, o capitão Lemuel Gulliver toma ciência de curiosos métodos de interpretação.

"Um outro acadêmico mostrou-me um escrito contendo um curioso método para descobrir as conspirações e as intrigas, que era examinar os alimentos dos indivíduos suspeitos, a ocasião em que os comem, o lado para o qual se deitam na cama e a mão com que limpam o traseiro; observar-lhes os excrementos e ajuizar, pelo cheiro e pela cor, dos pensamentos e dos projetos de um homem, tanto mais que, na sua opinião, os pensamentos não são nunca mais ponderados, nem o espírito se encontra tão recolhido, como quando se está no retrete. Ajuntava que, quando, para fazer simplesmente experiências, havia algumas vezes pensado no assassínio de um homem, tinha então encontrado os seus excrementos muito amarelos e que, quando pensava em revoltar-se e incendiar a capital, achara-os de uma cor muito negra.

"Arrisquei-me a acrescentar algumas palavras ao sistema desse político; disse-lhe que seria bom manter sempre um núcleo de espiões e delatores que se protegeriam e aos quais se daria sempre uma certa importância em dinheiro proporcional ao valor da sua denúncia, quer fundada, quer não; que, por esse meio, os súditos viveriam no receio e no respeito; que esses delatores e acusadores seriam autorizados a dar o sentido que lhes aprouvesse aos escritos que lhes caíssem nas mãos; que poderiam, por exemplo, interpretar assim os termos seguintes:

"Uma peneira: uma alta dama da corte.
Um cão coxo: uma descida, uma invasão.
A peste: m exército em pé de guerra.
Um bolônio: um favorito.
A gota: um grão-sacerdote.
Um pinico: uma assembléia.
Uma vassoura: uma revolução.
Uma ratoeira: um emprego financeiro.
Um esgoto: a corte.
Um chapéu e um cinto: uma amante.
Uma cana partida: o tribunal.
Um tonel vazio: um general.
Uma chaga aberta: o estado dos negócios públicos.

"Poder-se-ia ainda observar o anagrama de todos os nomes citados num escrito; para isso, porém, eram necessários homens da mais elevada penetração e do gênio mais sublime, principalmente quando se tratasse de descobrir o sentido político e misterioso das letras iniciais. Assim: N poderia significar uma conspiração; B um regimento de cavalaria; L uma esquadra. Além disso, transpondo-se as letras, poder-se-ia descobrir num escrito todos os ocultos desejos de um partido descontente. Por exemplo: lê-se numa carta escrita a um amigo: Seu irmão Tomás sofre de hemorróidas; o hábil decifrador desvendará, na assimilação destas palavras indiferentes, uma frase que fará compreender que está tudo preparado para uma sedição".


quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

Todas as cartas de amor são ridículas.

Todas as Cartas de Amor são Ridículas

Todas as cartas de amor são
Ridículas.
Não seriam cartas de amor se não fossem
Ridículas.

Também escrevi em meu tempo cartas de amor,
Como as outras,
Ridículas.

As cartas de amor, se há amor,
Têm de ser
Ridículas.

Mas, afinal,
Só as criaturas que nunca escreveram
Cartas de amor
É que são
Ridículas.

Quem me dera no tempo em que escrevia
Sem dar por isso
Cartas de amor
Ridículas.

A verdade é que hoje
As minhas memórias
Dessas cartas de amor
É que são
Ridículas.

(Todas as palavras esdrúxulas,
Como os sentimentos esdrúxulos,
São naturalmente
Ridículas.)

Álvaro de Campos, in "Poemas"
Heterónimo de Fernando Pessoa



Algumas cartas de amor encontradas nos livros não são exatamente ridículas, são documentos de uma época onde cortejar uma donzela, por anos, tomar a mão, roubar um beijo, prometer casamento e tentar adiar a promessa ad infinitum, mandar cartas e flores, outro tanto de bilhetes, com frases típica da época  "sempre teu", "com todo o meu amôr" grafado com circunflexo. Rendia ao gajo um belo processo onde a prova era a coleção das missivas, metódicamente guardadas pela  noiva.  
Ofendida, maculada sua honra, a noiva entrava com um  pedido de indenização, pelos anos em que ficou afiar na berlinda,  e nada do casório acontecer.
Cartas de amor são sentenças.  Outros tempos outros dias.

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Minha lista de objetos.




 A higienização de documentos é o primeiro passo na recuperação da informação. Quando me sento e abro um volume começo uma verdadeira aventura, página por página, passo uma larga e macia trincha, em segida jorra   toda sorte de artefato.
linhas, grampos ...
serra




cabelo

fotografia

Não é pequena a minha lista de objetos. Não são nada extraordinários ou estéticos, são objetos cotidianos que  retiro dos documentos. Esta lista não é tão famosa quanto a lista de Schindler ou a lista do Umberto Eco, porém não deixa de ter o seu encanto as imagens falam por si.

 A lista: excrementos, clips, grampos, pinos, cola velha, fita adesiva, linha, cupins, resto de traças, baba de ratos, cabelos, mofo, poeira, oxidação, serras, fotografias, recorte de jornal, mapas, cédulas, selos, carta de amor, pequenas anotações quase sempre de contas, toda sorte de papel de embrulho, dolares americanos, cruzado, cruzeiro novo, réis, recortes de notícias, receita de bolo, receitas médicas, bula de remédio, flores secas, folhas, resto de escrita, traços, desejos,  fitas de cetim, uma rosa desbotada, cartão postal, um beijo de baton, ácaro, resto de saliva, um escarro  e etc. É uma maravilha, para quem gosta...
... 

Neste calor de 30C recebi este limão de presente, só resta extrair o sumo e fazer uma refrescante limonada.



Cadernos, caixas, papel marmorizado com cola, objetos, Fred, imagem.

Caderno com costura cruzada, capa com corino forrado, papel do miolo polém 75g, duas unidades.
Estrutura cruzada - foto Anna Russo



 Fred, sempre alerta, passando muito calor.

Estacionamento privativo.

Capa: papel marmorizado com cola - padrão criado para ALESC.



Caixas para acondicionamento de documentos.
ALESC - Centro de Memória

Selo raro - Desterro - circa 1820



Praia do Campeche 

Ilha do Campeche

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Um caso de amor, lógico.


A Biblioteca Britânica em Londres é o lar de 14 milhões de livros, suas prateleiras se estendem  ao longo 600 km, uma distância entre Fpolis e Concórdia. 
É uma nave extraordinária de idéias e  conhecimentos, a Biblioteca, é o testemunho de um caso de amor, o amor que temos, incondicional, o nosso objeto do desejo, o livro.
 Sua coleção esta em parte disponível em seu sítio.
A jóia da corôa é uma Bíblia do século IV - O CODEX SINAITICUS, é considerada a mais antiga Bíblia do mundo. Estrita por volta de 350 dC, é uma visão única sobre os primeiros cristãos e seus esforços na tentativa de unificar o texto bíblico e torná-lo acessível.
O texto esta escrito em grego, disposto em colunas, a tinta empregada é uma amálgama de ouro com lápis- lázuli, o suporte é o pergamínho.
Veja a beleza do manuscrito no link. Não fique envergonhado se algumas lágrimas teimosas te queimarem a cara, a Arte vence a morte.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Diálogo Improvável


Primeiro ato:
"Não compreendo porque coisas boas às vezes perdem-se pelo caminho sem explicação...
Ou porque por vezes distorcem as nossas melhores intenções..."
Segundo ato:
..é porquê o amor é uma ilusão, que queima e a distorção é um fenômeno óptico, a transmutação a sublimação a trituração a destilação ....os alquimistas estão chegando ôô...
Terceiro Ato:
Seja feliz.
último ato:
O que vc quer objetivamente? Não entendi o seu e-mail, pensei que vc houvesse riscado o meu nome do seu caderno. O que é perde-se sem explicação? Perder é o ato continuo de encontrar alguma coisa, me parece..
Em síntese, o que VC NÂO QUER? O vazio dos aparelhos  do estado ou o ridículo do que se conceitua como arte? 

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

Manual de Encadernação - em francês

Manual para encadernação e pequenos reparos dos livros do acervo permanente.

As páginas deste Manual são o resultado do trabalho realizado ao longo de vários anos, pela a oficina de restauro do BCU por Ghislaine Baehler.

As informações aqui contidas  descrevem as intervenções que não exigem formação especializada na área da restauração, da conservação e é cuidadosamente fundamentado em bibliografias antigas e contemporâneas. 
A proposta da autora tem como objetivo os  livros antigos e modernos que não necessitem de uma restauração complexa. Para os casos onde a encadernação  original foi perdida ou inutilizada, Ghislaine Baehler propõe  vários tipos de costuras alternativas. A autora deste manual nos dá várias dicas: limpeza e recuperação do papel, dicas e truques, livros de referência, e os endereços dos fornecedores na França.
O texto original esta em francês porem contém ilustrações passo a passo o que confere uma riqueza ímpar.
Testei em livros antigos de medicina e odontologia, livros aparentemente sem importância editados na França na primeira metade do século XIX,  encadernados com lombada em couro, forrados com papel marmorizado. O resultado  me deixou muito contente. A reintegração da lombada a hidratação do couro, o reparo das guardas e das quinas ficaram preciosos.

Em quanto o calor é sufocante lá fora, me abstenho completamente, destilo litros de suor, porém é um refrigério ler este manual e praticar. Posso esquecer dos pesadelos, do último pelo menos tão vivo quanto uma  jaca rosa.

Saiba mais clic no link