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domingo, 25 de dezembro de 2011

Chove. É dia de Natal





Chove. É dia de Natal !

Chove. É dia de Natal.
Lá para o Norte é melhor:
Há a neve que faz mal,
E o frio que ainda é pior.

E toda a gente é contente
Porque é dia de o ficar.
Chove no Natal presente.
Antes isso que nevar.

Pois apesar de ser esse
O Natal da convenção,
Quando o corpo me arrefece
Tenho o frio e Natal não.

Deixo sentir a quem quadra
E o Natal a quem o fez,
Pois se escrevo ainda outra quadra
Fico gelado dos pés.
Fernando Pessoa

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Uma catástrofe no Egito, uma catástrofe para humanidade

Imagem do lemond
Neste domingo, 18 de dezembro  o prédio onde abrigava o Instituto do Egito continuava a  queimar. Todavia vários manifestantes entraram no prédio, na tentativa de salvar o que restou da coleção de Manuscritos. O incêndio começou no dia 17, de dezembro. Segundo as autoridades o fogo foi provocado pelos manifestantes que lançaram sobre o prédio coquetel molotov, porém esta versão é contestada.

 O Ministro da Cultura Shaker Abdel Hamid descreveu o desastre "catástrofe para a ciência", e anunciou a "formação de um comitê de especialistas em restauração de livros e manuscritos, quando as condições de segurança o permitirem.""O prédio continha manuscritos muito importantes e livros raros que é difícil encontrar o equivalente no mundo," disse ele, referindo-se aos esforços que envolvam "jovens da Revolução, o Conselho Supremo de cultura e restauradores para salvar o que for possível. ""É um grande desastre para o Egito", respondeu Raouf El Reedy, ex-embaixador egípcio em Washington e membro do Instituto. "Este instituto faz parte da história comum entre a França e o Egito", disse o arqueólogo Christian Leblanc, membro do Instituto.  

Enquanto eles  decidem a quem  pertence a autoria do incêndio, os documentos perdidos estão e nada mais se pode fazer.
continue lendo em http://www.lemonde.fr

quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Finge que Defende a Honra da Cidade e Aponto os Vícios de Seus Moradores



Gregório de Matos Guerra - O boca do Inferno

Finge que Defende a Honra da Cidade e Aponto os Vícios de Seus Moradores

Uma cidade tão nobre, uma gente tão honrada veja-se um dia louvada desde o mais rico ao mais pobre: cada pessoa o seu cobre, mas se o diabo me atiça, que indo a fazer-lhe justiça algum saia a justiçar, não me poderão negar que por direito, e por Lei esta é a justiça, que manda El-Rei O Fidalgo de solar se dá por envergonhado de um tostão pedir prestado para o ventre sustentar: diz que antes o quer furtar por manter a negra honra, que passar pela desonra de que lhe neguem talvez; mas se o virdes nas galés com honras de Vice-Rei, esta é a justiça, que manda El-Rei A Donzela embiocada mal trajada, e mal comida, antes quer na sua vida ter saia, que ser honrada:

à pública amancebada

por manter a negra honrinha, e se lho sabe a vizinha e lho ouve a clerezia, dão com ela na enxovia e paga a pena da lei: esta é a justiça, que manda El-Rei

A Casada com adorno, e o Marido mal vestido, crede que este tal Marido penteia monho de corno: se disser pelo contorno que se sofre a Frei Tomás por manter a honra o faz, esperai pela pancada, que com carocha pintada de Angola há de ser Visrei: esta é a justiça, que manda El-Rei. Os Letrados Peralvilhos citando o mesmo Doutor a fazer de réu o Autor comem de ambos os carrinhos: se se diz pelos corrilhos sua prevaricação, a desculpa, que lhe dão, é a honra de seus parentes e entonces os requerentes fogem desta infame grei: esta é a justiça, que manda El-Rei. O Clérigo julgador, que as causas julga sem pejo, não reparando que eu vejo que erra a Lei, e erra o Doutor: quando vêem de Monsenhor a sentença revogada por saber que foi comprada pelo jimbo, ou pelo abraço, responde o Juiz madraço, minha honra é minha Lei: esta é a justiça, que manda El-Rei. O Mercador avarento, quando a sua compra estende, no que compra, e no que vende, tira duzentos por cento: não é ele tão jumento, que não saiba que em Lisboa se lhe há de dar na gamboa; mas comido já o dinheiro diz que a honra está primeiro, e que honrado a toda Lei: esta é justiça, que manda El-Rei. A Viúva autorizada, que não possui um vintém, porque o Marido de bem deixou a casa empenhada: ali vai a fradalhada, qual formiga em correição, dizendo que à casa vão manter a honra da casa; se a virdes arder em brasa, que ardeu a honra entendei: esta é a justiça, que manda El-Rei. O Adônis da manhã, o Cupido em todo dia, que anda correndo a coxia com recadinhos da Irmã: e se lhe cortam a lã, diz que anda naquele andar por a honra conservar bem tratado, e bem vestido, eu o verei tão despido, que até as costas lhe verei: esta é a justiça, que manda El-Rei. Se virdes um Dom Abade sobre o púlpito cioso, não lhe chameis religioso, chamai-lhe embora de frade: e se o tal paternidade rouba as rendas do convento para acudir ao sustento da puta, como da peita, com que livra da suspeita do Geral, do Viso-Rei: esta é a justiça, que manda El-Rei.

In Memoriam

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Eu Prometo

....................
Eu prometo
Não fazer nada.
Regar as plantas
Cuidar dos meus gatos
Não comprar
Ouvir mais
Ver filmes
Jogar xadrez na praça
Esquecer este mês aziago de dezembro de 2011
.......................................................................




domingo, 13 de novembro de 2011

I-Juca Pirama. Antonio Gonçalves Dias



I-Juca Pirama
No meio das tabas de amenos verdores,
Cercadas de troncos - cobertos de flores,
Alteiam-se os tetos d’altiva nação;
São muitos seus filhos, nos ânimos fortes,
Temíveis na guerra, que em densas coortes
Assombram das matas a imensa extensão.
São rudos, severos, sedentos de glória,
Já prélios incitam, já cantam vitória,
Já meigos atendem à voz do cantor:
São todos Timbiras, guerreiros valentes!
Seu nome lá voa na boca das gentes,
Condão de prodígios, de glória e terror!
As tribos vizinhas, sem forças, sem brio,
As armas quebrando, lançando-as ao rio,
O incenso aspiraram dos seus maracás:
Medrosos das guerras que os fortes acendem,
Custosos tributos ignavos lá rendem,
Aos duros guerreiros sujeitos na paz.
No centro da taba se estende um terreiro,
Onde ora se aduna o concílio guerreiro
Da tribo senhora, das tribos servis:
Os velhos sentados praticam d’outrora,
E os moços inquietos, que a festa enamora,
Derramam-se em torno dum índio infeliz.
Quem é? - ninguém sabe: seu nome é ignoto,
Sua tribo não diz: - de um povo remoto
Descende por certo - dum povo gentil;
Assim lá na Grécia ao escravo insulano
Tornavam distinto do vil muçulmano
As linhas corretas do nobre perfil.
Por casos de guerra caiu prisioneiro
Nas mãos dos Timbiras: - no extenso terreiro
Assola-se o teto, que o teve em prisão;
Convidam-se as tribos dos seus arredores,
Cuidosos se incubem do vaso das cores,
Dos vários aprestos da honrosa função.
Acerva-se a lenha da vasta fogueira
Entesa-se a corda da embira ligeira,
Adorna-se a maça com penas gentis:
A custo, entre as vagas do povo da aldeia
Caminha o Timbira, que a turba rodeia,
Garboso nas plumas de vário matiz.
Em tanto as mulheres com leda trigança,
Afeitas ao rito da bárbara usança,
índio já querem cativo acabar:
A coma lhe cortam, os membros lhe tingem,
Brilhante enduape no corpo lhe cingem,
Sombreia-lhe a fronte gentil canitar,

II

Em fundos vasos d’alvacenta argila
Ferve o cauim;
Enchem-se as copas, o prazer começa,
Reina o festim.
O prisioneiro, cuja morte anseiam,
Sentado está,
O prisioneiro, que outro sol no ocaso
Jamais verá!
A dura corda, que lhe enlaça o colo,
Mostra-lhe o fim
Da vida escura, que será mais breve
Do que o festim!
Contudo os olhos d’ignóbil pranto
Secos estão;
Mudos os lábios não descerram queixas
Do coração.
Mas um martírio , que encobrir não pode,
Em rugas faz
A mentirosa placidez do rosto
Na fronte audaz!
Que tens, guerreiro? Que temor te assalta
No passo horrendo?
Honra das tabas que nascer te viram,
Folga morrendo.
Folga morrendo; porque além dos Andes
Revive o forte,
Que soube ufano contrastar os medos
Da fria morte.
Rasteira grama, exposta ao sol, à chuva,
Lá murcha e pende:
Somente ao tronco, que devassa os ares,
O raio ofende!
Que foi? Tupã mandou que ele caísse,
Como viveu;
E o caçador que o avistou prostrado
Esmoreceu!
Que temes, ó guerreiro? Além dos Andes
Revive o forte,
Que soube ufano contrastar os medos
Da fria morte.

III

Em larga roda de novéis guerreiros
Ledo caminha o festival Timbira,
A quem do sacrifício cabe as honras,
Na fronte o canitar sacode em ondas,
O enduape na cinta se embalança,
Na destra mão sopesa a iverapeme,
Orgulhoso e pujante. - Ao menor passo
Colar d’alvo marfim, insígnia d’honra,
Que lhe orna o colo e o peito, ruge e freme,
Como que por feitiço não sabido
Encantadas ali as almas grandes
Dos vencidos Tapuias, inda chorem
Serem glória e brasão d’imigos feros.
"Eis-me aqui", diz ao índio prisioneiro;
"Pois que fraco, e sem tribo, e sem família,
"As nossas matas devassaste ousado,
"Morrerás morte vil da mão de um forte."
Vem a terreiro o mísero contrário;
Do colo à cinta a muçurana desce:
"Dize-nos quem és, teus feitos canta,
"Ou se mais te apraz, defende-te." Começa
O índio, que ao redor derrama os olhos,
Com triste voz que os ânimos comove.

IV

Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi:
Sou filho das selvas,
Nas selvas cresci;
Guerreiros, descendo
Da tribo tupi.
Da tribo pujante,
Que agora anda errante
Por fado inconstante,
Guerreiros, nasci;
Sou bravo, sou forte,
Sou filho do Norte;
Meu canto de morte,
Guerreiros, ouvi.
Já vi cruas brigas,
De tribos imigas,
E as duras fadigas
Da guerra provei;
Nas ondas mendaces
Senti pelas faces
Os silvos fugaces
Dos ventos que amei.
Andei longes terras
Lidei cruas guerras,
Vaguei pelas serras
Dos vis Aimoréis;
Vi lutas de bravos,
Vi fortes - escravos!
De estranhos ignavos
Calcados aos pés.
E os campos talados,
E os arcos quebrados,
E os piagas coitados
Já sem maracás;
E os meigos cantores,
Servindo a senhores,
Que vinham traidores,
Com mostras de paz.
Aos golpes do imigo,
Meu último amigo,
Sem lar, sem abrigo
Caiu junto a mi!
Com plácido rosto,
Sereno e composto,
O acerbo desgosto
Comigo sofri.
Meu pai a meu lado
Já cego e quebrado,
De penas ralado,
Firmava-se em mi:
Nós ambos, mesquinhos,
Por ínvios caminhos,
Cobertos d’espinhos
Chegamos aqui!
O velho no entanto
Sofrendo já tanto
De fome e quebranto,
Só qu’ria morrer!
Não mais me contenho,
Nas matas me embrenho,
Das frechas que tenho
Me quero valer.
Então, forasteiro,
Caí prisioneiro
De um troço guerreiro
Com que me encontrei:
O cru dessossêgo
Do pai fraco e cego,
Enquanto não chego
Qual seja, - dizei!
Eu era o seu guia
Na noite sombria,
A só alegria
Que Deus lhe deixou:
Em mim se apoiava,
Em mim se firmava,
Em mim descansava,
Que filho lhe sou.
Ao velho coitado
De penas ralado,
Já cego e quebrado,
Que resta? - Morrer.
Enquanto descreve
O giro tão breve
Da vida que teve,
Deixai-me viver!
Não vil, não ignavo,
Mas forte, mas bravo,
Serei vosso escravo:
Aqui virei ter.
Guerreiros, não coro
Do pranto que choro:
Se a vida deploro,
Também sei morrer.

V

Soltai-o! - diz o chefe. Pasma a turba;
Os guerreiros murmuram: mal ouviram,
Nem pode nunca um chefe dar tal ordem!
Brada segunda vez com voz mais alta,
Afrouxam-se as prisões, a embira cede,
A custo, sim; mas cede: o estranho é salvo.
Timbira, diz o índio enternecido,
Solto apenas dos nós que o seguravam:
És um guerreiro ilustre, um grande chefe,
Tu que assim do meu mal te comoveste,
Nem sofres que, transposta a natureza,
Com olhos onde a luz já não cintila,
Chore a morte do filho o pai cansado,
Que somente por seu na voz conhece.
- És livre; parte.
- E voltarei.
- Debalde.
- Sim, voltarei, morto meu pai.
- Não voltes!
É bem feliz, se existe, em que não veja,
Que filho tem, qual chora: és livre; parte!
- Acaso tu supões que me acobardo,
Que receio morrer!
- És livre; parte!
- Ora não partirei; quero provar-te
Que um filho dos Tupis vive com honra,
E com honra maior, se acaso o vencem,
Da morte o passo glorioso afronta.
- Mentiste, que um Tupi não chora nunca,
E tu choraste!... parte; não queremos
Com carne vil enfraquecer os fortes.
Sobresteve o Tupi: - arfando em ondas
O rebater do coração se ouvia
Precípite. - Do rosto afogueado
Gélidas bagas de suor corriam:
Talvez que o assaltava um pensamento...
Já não... que na enlutada fantasia,
Um pesar, um martírio ao mesmo tempo,
Do velho pai a moribunda imagem
Quase bradar-lhe ouvia: - Ingrato! Ingrato!
Curvado o colo, taciturno e frio.
Espectro d’homem, penetrou no bosque!

VI

- Filho meu, onde estás?
- Ao vosso lado;
Aqui vos trago provisões; tomai-as,
As vossas forças restaurai perdidas,
E a caminho, e já!
- Tardaste muito!
Não era nado o sol, quando partiste,
E frouxo o seu calor já sinto agora!
- Sim demorei-me a divagar sem rumo,
Perdi-me nestas matas intrincadas,
Reaviei-me e tornei; mas urge o tempo;
Convém partir, e já!
- Que novos males
Nos resta de sofrer? - que novas dores,
Que outro fado pior Tupã nos guarda?
- As setas da aflição já se esgotaram,
Nem para novo golpe espaço intacto
Em nossos corpos resta.
- Mas tu tremes!
- Talvez do afã da caça....
- Oh filho caro!
Um quê misterioso aqui me fala,
Aqui no coração; piedosa fraude
Será por certo, que não mentes nunca!
Não conheces temor, e agora temes?
Vejo e sei: é Tupã que nos aflige,
E contra o seu querer não valem brios.
Partamos!... -
E com mão trêmula, incerta
Procura o filho, tacteando as trevas
Da sua noite lúgubre e medonha.
Sentindo o acre odor das frescas tintas,
Uma idéia fatal ocorreu-lhe à mente...
Do filho os membros gélidos apalpa,
E a dolorosa maciez das plumas
Conhece estremecendo: - foge, volta,
Encontra sob as mãos o duro crânio,
Despido então do natural ornato!...
Recua aflito e pávido, cobrindo
Às mãos ambas os olhos fulminados,
Como que teme ainda o triste velho
De ver, não mais cruel, porém mais clara,
Daquele exício grande a imagem viva
Ante os olhos do corpo afigurada.
Não era que a verdade conhecesse
Inteira e tão cruel qual tinha sido;
Mas que funesto azar correra o filho,
Ele o via; ele o tinha ali presente;
E era de repetir-se a cada instante.
A dor passada, a previsão futura
E o presente tão negro, ali os tinha;
Ali no coração se concentrava,
Era num ponto só, mas era a morte!
- Tu prisioneiro, tu?
- Vós o dissestes.
- Dos índios?
- Sim.
- De que nação?
- Timbiras.
- E a muçurana funeral rompeste,
Dos falsos manitôs quebrastes maça...
- Nada fiz... aqui estou.
- Nada! -
Emudecem;
Curto instante depois prossegue o velho:
- Tu és valente, bem o sei; confessa,
Fizeste-o, certo, ou já não fôras vivo!
- Nada fiz; mas souberam da existência
De um pobre velho, que em mim só vivia....
- E depois?...
- Eis-me aqui.
- Fica essa taba?
- Na direção do sol, quando transmonta.
- Longe?
- Não muito.
- Tens razão: partamos.
- E quereis ir?...
- Na direção do acaso.

VII

"Por amor de um triste velho,
Que ao termo fatal já chega,
Vós, guerreiros, concedestes
A vida a um prisioneiro.
Ação tão nobre vos honra,
Nem tão alta cortesia
Vi eu jamais praticada
Entre os Tupis, - e mas foram
Senhores em gentileza.
"Eu porém nunca vencido,
Nem nos combates por armas,
Nem por nobreza nos atos;
Aqui venho, e o filho trago.
Vós o dizeis prisioneiro,
Seja assim como dizeis;
Mandai vir a lenha, o fogo,
A maça do sacrifício
E a muçurana ligeira:
Em tudo o rito se cumpra!
E quando eu for só na terra,
Certo acharei entre os vossos,
Que tão gentis se revelam,
Alguém que meus passos guie;
Alguém, que vendo o meu peito
Coberto de cicatrizes,
Tomando a vez de meu filho,
De haver-me por se ufane!"
Mas o chefe dos Timbiras,
Os sobrolhos encrespando,
Ao velho Tupi guerreiro
Responde com tôrvo acento:
- Nada farei do que dizes:
É teu filho imbele e fraco!
Aviltaria o triunfo
Da mais guerreira das tribos
Derramar seu ignóbil sangue:
Ele chorou de cobarde;
Nós outros, fortes Timbiras,
Só de heróis fazemos pasto. -
Do velho Tupi guerreiro
A surda voz na garganta
Faz ouvir uns sons confusos,
Como os rugidos de um tigre,
Que pouco a pouco se assanha!

VIII

"Tu choraste em presença da morte?
Na presença de estranhos choraste?
Não descende o cobarde do forte;
Pois choraste, meu filho não és!
Possas tu, descendente maldito
De uma tribo de nobres guerreiros,
Implorando cruéis forasteiros,
Seres presa de via Aimorés.
"Possas tu, isolado na terra,
Sem arrimo e sem pátria vagando,
Rejeitado da morte na guerra,
Rejeitado dos homens na paz,
Ser das gentes o espectro execrado;
Não encontres amor nas mulheres,
Teus amigos, se amigos tiveres,
Tenham alma inconstante e falaz!
"Não encontres doçura no dia,
Nem as cores da aurora te ameiguem,
E entre as larvas da noite sombria
Nunca possas descanso gozar:
Não encontres um tronco, uma pedra,
Posta ao sol, posta às chuvas e aos ventos,
Padecendo os maiores tormentos,
Onde possas a fronte pousar.
"Que a teus passos a relva se torre;
Murchem prados, a flor desfaleça,
E o regato que límpido corre,
Mais te acenda o vesano furor;
Suas águas depressa se tornem,
Ao contacto dos lábios sedentos,
Lago impuro de vermes nojentos,
Donde fujas com asco e terror!
"Sempre o céu, como um teto incendido,
Creste e punja teus membros malditos
E oceano de pó denegrido
Seja a terra ao ignavo tupi!
Miserável, faminto, sedento,
Manitôs lhe não falem nos sonhos,
E do horror os espectros medonhos
Traga sempre o cobarde após si.
"Um amigo não tenhas piedoso
Que o teu corpo na terra embalsame,
Pondo em vaso d’argila cuidoso
Arco e frecha e tacape a teus pés!
Sê maldito, e sozinho na terra;
Pois que a tanta vileza chegaste,
Que em presença da morte choraste,
Tu, cobarde, meu filho não és."

IX

Isto dizendo, o miserando velho
A quem Tupã tamanha dor, tal fado
Já nos confins da vida reservada,
Vai com trêmulo pé, com as mãos já frias
Da sua noite escura as densas trevas
Palpando. - Alarma! alarma! - O velho pára!
O grito que escutou é voz do filho,
Voz de guerra que ouviu já tantas vezes
Noutra quadra melhor. - Alarma! alarma!
- Esse momento só vale a pagar-lhe
Os tão compridos trances, as angústias,
Que o frio coração lhe atormentaram
De guerreiro e de pai: - vale, e de sobra.
Ele que em tanta dor se contivera,
Tomado pelo súbito contraste,
Desfaz-se agora em pranto copioso,
Que o exaurido coração remoça.
A taba se alborota, os golpes descem,
Gritos, imprecações profundas soam,
Emaranhada a multidão braveja,
Revolve-se, enovela-se confusa,
E mais revolta em mor furor se acende.
E os sons dos golpes que incessantes fervem,
Vozes, gemidos, estertor de morte
Vão longe pelas ermas serranias
Da humana tempestade propagando
Quantas vagas de povo enfurecido
Contra um rochedo vivo se quebravam.
Era ele, o Tupi; nem fora justo
Que a fama dos Tupis - o nome, a glória,
Aturado labor de tantos anos,
Derradeiro brasão da raça extinta,
De um jacto e por um só se aniquilasse.
- Basta! Clama o chefe dos Timbiras,
- Basta, guerreiro ilustre! Assaz lutaste,
E para o sacrifício é mister forças. -
O guerreiro parou, caiu nos braços
Do velho pai, que o cinge contra o peito,
Com lágrimas de júbilo bradando:
"Este, sim, que é meu filho muito amado!
"E pois que o acho enfim, qual sempre o tive,
"Corram livres as lágrimas que choro,
"Estas lágrimas, sim, que não desonram."

X

Um velho Timbira, coberto de glória,
Guardou a memória
Do moço guerreiro, do velho Tupi!
E à noite, nas tabas, se alguém duvidava
Do que ele contava,
Dizia prudente: - "Meninos, eu vi!
"Eu vi o brioso no largo terreiro
Cantar prisioneiro
Seu canto de morte, que nunca esqueci:
Valente, como era, chorou sem ter pejo;
Parece que o vejo,
Que o tenho nest’hora diante de mi.
"Eu disse comigo: Que infâmia d’escravo!
Pois não, era um bravo;
Valente e brioso, como ele, não vi!
E à fé que vos digo: parece-me encanto
Que quem chorou tanto,
Tivesse a coragem que tinha o Tupi!"
Assim o Timbira, coberto de glória,
Guardava a memória
Do moço guerreiro, do velho Tupi.
E à noite nas tabas, se alguém duvidava
Do que ele contava,
Tornava prudente: "Meninos, eu vi!".
FIM

sábado, 12 de novembro de 2011

Oficina de Encadernação no MESC

Projeto Novos Talentos MESC/UDESC.
Alunos da Escola Básica Lauro Muller e Curso de pedagogia da UDESC.

cadernos




detalhe

Detalhe da Costura





Trabalho realizado pelos participantes da oficina de encadernação e marmorização de papel. 

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Hoje é dia de Martinho de Haro - 11.11.1907


Quando saio a flanar pela Conselheiro Mafra, vejo uma sombra tênue do que restou da Florianópolis de Martinho, casarios, mulatas, um pedaço de mar e o forte cheiro dos peixes. Depois de um caminhar bem rápido  entro em casa cumprimento dona Maria, dou boa noite a Silvia,  vislumbro uma paisagem distante de São Joaquim, no interior do centenário armário da cozinha retiro a taça, abro uma garrafa de vinho, faço um brinde a memória, a casa, a romanzeira em flor.
Feliz aniversário!!

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

11/11/11 Indignados Floripa


imagem do sitio manifestobr

Farta com  as denúncias de corrupção, furibunda com a falta de segurança,  é só escandalo, nada acontece. Cansada do descaso com  patrimônio público - acervos deteriorando-se, os prédios dos Museus  ruindo - e eu aqui na praça dando milho aos pombos, como cantou Raul ... Basta! Vou pra rua protestar.

Atenção - não há polícia na rua para garantir a segurança do cidadão, porém é certo que haverá muitos políciais  incluindo a cavalaria para reprimir o protesto. È sempre bom levar um kit - água, lenço de tecido e muita calma.

11.11.11 – Ocupe As Ruas. Ocupe O Mundo.

novembro 9th, 2011
Author: Manifesto BR


Sobre: “A luta por uma democracia real apenas começou. Dia 11/11/11 manifestações ocorrerão no mundo todo, em apoio aos cidadãos da Espanha, dos Estados Unidos, da Grécia, da Itália, do Chile e de todos os países que já começaram a se levantar contra a hegemonia de uma minoria em detrimento da maioria. Também será uma oportunidade de mostrar solidariedade às ocupações que se iniciaram desde 15 de outubro pelo Brasil: São Paulo, Belo Horizonte, Salvador, Curitiba e Rio de Janeiro.”

Saiba mais em http://manifestobr.com.br/portal/

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Manual de Conservação de Acervos Bibliográficos e Documentais.


Conservação de Acervos Bibliográficos e Documentais por Jayme Spinelli Jr.
Trata-se de um documento em português editado em 1997. É uma referência importante, simples e clara.
Vale apena baixar e ler  o texto com atenção.

Bom proveito!

http://www.fbn.br/portal/arquivos/pdf/manualjame.pdf

terça-feira, 1 de novembro de 2011

A Barca da Morte



A barca da morte


(D.H. Lawrence - Tradução de Rui Rosado)


 

Agora é o Outono, o cair dos frutos

e a longa viagem para o esquecimento.

 

As maçãs que caem como grandes gotas de orvalho

Conseguem ferir uma saída de si próprias.

 

É tempo de ir, do adeus

ao próprio eu, de encontrar uma saída

do eu caído.

 

II 

 

Já construiste a tua barca da morte, a tua?.

Constrói a tua barca da morte, vais precisar dela.

 

Não tarda a geada impiedosa, e cairão as maçãs

pesadas, quase retumbantes, na terra ressequida.

 

E, no ar, a morte como um cheiro de cinzas!

Não a sentes?

 

E no corpo ferido, a alma assustada

fica encolhida, contraíndo-se do frio

que sopra sobre ela pelos orifícios.

 

III 

 

E consegue um homem a sua quietude

com um punhal nu?

 

Com adagas, punhais, balas, um homem consegue

uma fenda ou ferida para sair a vida;

mas é isso a quietude, diz-me, a quietude?

 

Claro que não! como pode um crime, mesmo contra si

criar quietude?

 

IV 

 

Falemos de quietudes que conhecemos,

das que podemos conhecer, de profundas e ternas quietudes

num coração forte e em paz!

 

Como tornar, isto em quietude nossa?

 


 

Constrói, pois, a barca da morte, que vais partir

na mais longa viagem, para o esquecimento.

 

E morre a morte, a longa e dolorida morte

que fica entre o velho e o novo eu.

 

Caíram-nos já, feridos, rasgados, os corpos,

esvaem-se-nos já as almas pela saída

dessa cruel ferida.

 

O oceano sombrio, infindável, do fim

espraia-se já pelas nossas rebentadas chagas,

abate-se já sobre nós o dilúvio.

 

Constrói a tua barca da morte, a tua pequena arca

abastece-a com comida biscoitos e vinho,

para o obscuro voo no esquecimento.

 

VI 

 

Pouco a pouco o corpo morre, e a alma tímida

vê o suporte levado no erguer do negro dilúvio.

 

Morrendo, estamos morrendo, estamos todos morrendo

e nada deterá o dilúvio de morte que cresce em nós

e não tarda a erguer-se sobre o mundo, sobre o mundo exterior.

 

Morrendo, estamos morrendo, pouco a pouco morrendo

e abandona-nos o ânimo,

e abriga-se a alma nua na chuva negra sobre o dilúvio

abrigando-se nos últimos ramos da árvore da nossa vida.

 

VII 

 

Morrendo, estamos morrendo, agora só nos resta

aceitar a morte, e construir a barca

da morte que nos leve a alma na mais longa viagem.

 

Uma pequena barca, com remos e comida

e pequenos pratos, e todo o apetrechamento

pronto e necessário à alma de partida.

 

Agora, lança à água a pequena barca, agora, que o corpo morre

e a vida parte, lança a alma frágil

na frágil barca da coragem, na arca da fé,

com os mantimentos, as pequenas caçarolas

e as mudas de roupa;

no negro deserto do dilúvio

nas águas do fim

no mar da morte, onde navegamos ainda,

às escuras, porque não temos leme nem existe porto.

 

Não há porto, nenhum sítio para onde ir

apenas o negrume que se aprofunda e escurece mais,

mais negro sobre o dilúvio silencioso e inagitado

escuridão após escuridão, para cima e para baixo

e pelos lados absoluta escuridão, já não pode haver direção.

E a pequena barca está lá, e contudo partiu.

Não pode ser vista, porque nada o permite.

Desapareceu! partiu! e contudo está

em algum lado.

Em lado algum!

 

VIII 

 

E tudo partiu, o corpo partiu

submerso, desaparecido, inteiramente desaparecido.

A escuridão de cima é tão densa como a de baixo,

por entre elas a pequena barca

partiu

desapareceu.

 

É o fim, é o esquecimento.

 

IX 

 

E, contudo, da eternidade separa-se

um filamento sobre o negrume,

um filamento horizontal

que se eleva palidamente sobre o escuro.

 

Será ilusão ou eleva-se essa palidez

um pouco mais alto?

Mas espera, espera, porque há a madrugada,

a madrugada cruel do regresso à vida

após o esquecimento.

 

Espera, espera, a pequena barca

à deriva, debaixo do cinzento mortal das cinzas

duma madrugada de dilúvio.

 

Espera, espera! mesmo assim uma réstea de amarelo

e, por estranho, alma cansada e fria, uma réstea de rosa.

 

Uma réstea de rosa, e tudo isto recomeça.

 


 

Desde o dilúvio, e o corpo, como uma concha polida

emerge extraordinário e belo.

E a pequena barca torna a casa, deslizando, trêmula,

sobre as águas do dilúvio róseo,

e a frágil alma desembarca, volta a casa

enchendo de paz o coração.

 

O coração renovado embala-se na paz,

mesmo na do próprio esquecimento.

 

Constrói a tua barca da morte, a tua!

vais precisar dela.

Espera-te a viagem do esquecimento.

fonte - 
http://mundodek.blogspot.com

Arcano XIII

Amanhã é o dia de celebrar a memória dos que se foram. Testemunhos da fugacidade da vida - vanitas - e do incontestável triunfo da Terrível Senhora, esta senhora não faz distinção entre gênero, hábitos ou condição social.

      O CORVO *
       Edgar Allan Poe
      Tradução - Fernando Pessoa

    Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
    Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
    E já quase adormecia, ouvi o que parecia
    O som de algúem que batia levemente a meus umbrais.
    "Uma visita", eu me disse, "está batendo a meus umbrais.
    É só isto, e nada mais."Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
    E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
    Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
    P'ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes celestiais -
    Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
    Mas sem nome aqui jamais!Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
    Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
    Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo,
    "É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
    Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
    É só isto, e nada mais".E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
    "Senhor", eu disse, "ou senhora, decerto me desculpais;
    Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
    Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
    Que mal ouvi..." E abri largos, franqueando-os, meus umbrais.
    Noite, noite e nada mais.A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
    Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
    Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
    E a única palavra dita foi um nome cheio de ais -
    Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.
    Isso só e nada mais.Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo,
    Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
    "Por certo", disse eu, "aquela bulha é na minha janela.
    Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais."
    Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.
    "É o vento, e nada mais."Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
    Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
    Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
    Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,
    Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,
    Foi, pousou, e nada mais.E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
    Com o solene decoro de seus ares rituais.
    "Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de nobre e ousado,
    Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
    Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais."
    Disse o corvo, "Nunca mais".Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
    Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
    Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
    Que uma ave tenha tido pousada nos meus umbrais,
    Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
    Com o nome "Nunca mais".Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
    Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
    Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
    Perdido, murmurei lento, "Amigo, sonhos - mortais
    Todos - todos já se foram. Amanhã também te vais".
    Disse o corvo, "Nunca mais".A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
    "Por certo", disse eu, "são estas vozes usuais,
    Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
    Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
    E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais
    Era este "Nunca mais".Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
    Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
    E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
    Que qu'ria esta ave agoureia dos maus tempos ancestrais,
    Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
    Com aquele "Nunca mais".Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
    À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
    Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
    No veludo onde a luz punha vagas sobras desiguais,
    Naquele veludo onde ela, entre as sobras desiguais,
    Reclinar-se-á nunca mais!Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
    Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
    "Maldito!", a mim disse, "deu-te Deus, por anjos concedeu-te
    O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
    O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!"
    Disse o corvo, "Nunca mais"."Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
    Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,
    A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo,
    A esta casa de ância e medo, dize a esta alma a quem atrais
    Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!
    Disse o corvo, "Nunca mais"."Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou ave preta!
    Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.
    Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
    Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
    Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!"
    Disse o corvo, "Nunca mais"."Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!", eu disse. "Parte!
    Torna á noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
    Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
    Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
    Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!"
    Disse o corvo, "Nunca mais".E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
    No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
    Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
    E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,
    Libertar-se-á... nunca mais!