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quinta-feira, 4 de outubro de 2007

Centenário do pintor Martinho de Haro


Centenário Martinho de Haro

Há uma razão imperativa para que se comemore com galas muito especiais o centenário de nascimento do pintor catarinense Martinho de Haro:, o pintor cartesiano que com desbordante de sensibilidade afetiva é o paisagista por exelência da cidade de Florianópolis. O motivo está nas palavras que Valmir Ayala escreveu há vinte anos, logo após o falecimento do pintor: “O diálogo agora é de uma pintura soberana e completa, com um universo de olhares necessitados de justiça e esclarecimento. A ilha ganha agora sua luz, sua verdadeira luz, porque a obra viva de Martinho de Haro encontra seu continente exato; é um bem público destinado a valorizar a vida comunitária”. Portanto, chegou a hora de democratizar para valer aquela justiça e aquele esclarecimento que, após a morte do pintor, foram se fortalecendo sem, contudo, chegar a atingir a latitude que lhes compete junto às camadas populares. O que se impõe, porque o povo é o legitimador de todo itinerário de arte que se torna lenda e memória.

Estamos em 2007. Para que a justiça com plenitude se realizasse e o esclarecimento pudesse frutificar e atingir de vez o nível da comunidade, através do convívio do qual, desde sempre, se destina a produção de um artista maior, era preciso que se criasse o museu que abrigaria parte significativa da obra de Martinho de Haro. Tal museu seria aquele em que, pela fruição, a sociedade se resgataria, cumprindo o dever dos que se afirmam preocupados com a cultura, posto que esta seja o lugar que espelha nosso autêntico semblante.

Enquanto não se funda tal instituição devemos a nós mesmos, como cidadãos, um trabalho de divulgação, que pode muito bem servir-se do ensejo do centenário para ser proposto e ser levado a efeito. Sendo assim, é tempo de pensarmos em uma definitiva exposição que descortine, nesse simbólico momento, o mais e o melhor da produção de Martinho. Nela se exibiriam as hoje inatingíveis obras primas de coleções particulares e públicas. É preciso que se componha o inventário, dessa produção, que dará ao resto do Brasil e aos interessados de fora um instrumento de conhecimento e de pesquisa. Este catálogo estará à disposição do público a partir do seu lançamento, no Museu de Arte de Santa Catarina, no dia 11 de novembro. Necessário é, por fim, que tragamos estudiosos e críticos para que, no ano das comemorações possam discutir o legado e indicar novas perspectivas de entendimento e avaliação de um percurso, já aquilatado por Roberto Teixeira Leite, Fábio Magalhães, Olívio Tavares de Araújo e outros estudiosos. Estes críticos e alguns mais, como Tadeu Chiarelli, Walter de Queiroz Guerreiro e nadja Lamas estarão no MASC, para discutir a obra de Martinho, nos dias 25, 26 e 27 de outubro.

O tempo veio dizendo que Martinho de Haro foi o maior artista plástico de sua terra; que, entre nós, outro não houve que captasse com mais finura as sugerências do lugar de sua predileção. Disse mais o tempo: que ele edificou uma tipicidade discreta e não obstante vigorosa que dariam universalidade às emoções que nascem nas vivências locais, mas atingem, quando elaboradas pelo saber, os patamares da arte sem fronteira. Martinho representa o ponto alto do modernismo em terras de Santa Catarina. Aqui, arriscando ambivalente isolamento, ele construiu o roteiro exemplar e luminoso, na medida inversamente proporcional aos espetáculos retóricos da pintura. Foi buscar com manualidade espiritual (e além disso, espirituosa) o domínio de harmonias diáfanas; o registro de transparências moventes que superaram às de seus possíveis inspiradores, aqueles epígonos de um fauvismo depurado que retornam, como Marquet, abandonando os rugidos da cor, à análise das nuanças e da transitoriedade das sugestões atmosféricas. Enfim, um artista para a história da arte brasileira, à altura de seus maiores representantes.

Fonte: Museu de Arte de Santa Catarina - http://www.masc.org.br

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