Roubo ao Masp foi precedido de duas tentativas frustradas
Publicada em 20/12/2007 às 17h00m
SÃO PAULO - O Masp foi vítima de duas tentativas de roubo antes de os dois valiosos quadros do museu serem levados nesta quinta-feira: "O Lavrador de Café e "O Retrato de Suzanne Bloch ". Para a polícia, a mesma quadrilha tentou realizar o roubo até obter sucesso.
As tentativas, segundo funcionários do Masp, começaram há dois meses. Na primeira vez, usaram um maçarico para tentar abrir uma porta lateral do prédio, por onde entram os seguranças. A segunda vez foi no dia 29 de outubro passado, quando um segurança que estava de plantão no aquário de vidro da entrada (no vão livre) chegou a ser rendido. O bando teria desistido do roubo e fugido e há, para a fuga, duas explicações: o alarme soou ou simplesmente o elevador que os ladrões pretendiam andar estava travado.
Desta vez, eles voltaram e subiram pela escada, arrombando a porta principal.
Para o delegado Marcos Gomes de Moura, do 78º Distrito Policial, o bando é o mesmo e agiu a mando de um colecionador. Ele descarta a possibilidade de seqüestro das obras, como costuma ocorrer no mercado de arte. O Masp abriu sindicância interna e pediu ajuda à Interpol, à Polícia Federal e ao Itamaraty para investigar o roubo e impedir que as obras sejam levadas para fora do país.
- Estas não são obras vendidas em qualquer feira. São obras conhecidas, que interessam muito a colecionadores. O mercado de arte é restrito e imagino que alguém de alto poder aquisitivo a encomendou. A obra é de importância mundial - afirmou.
Em outubro passado, segundo o delegado, os ladrões usaram o elevador para chegar até o segundo pavimento e o alarme soou, o que fez com que fugissem. Nesta madrugada, eles teriam encontrado o caminho livre.
Desta vez, o alarme não tocou e eles teriam aproveitado a troca de turno dos seguranças para arrombar a porta principal do museu. Para isso, usou um macaco-hidráulico e um pé-de-cabra, largados no local e recolhidos pela Polícia Científica. No segundo pavimento, por onde chegaram pela escada, retiraram os quadros, que estavam em salas diferentes, distantes um do outro. No trajeto dentro do Masp, teriam aproveitado pontos cegos das câmeras de vigilância que, segundo a polícia, não têm infra-vermelho e, por isso, não gravam mesmo no escuro.
De acordo com a polícia, os quadros foram levados em três minutos, entre 5h09 e 5h12m.
Para o delegado Moura, os ladrões agiram como 'profissionais', mas deixaram imagens gravadas.
- As fitas não mostram os ladrões dentro do museu. Temos apenas imagens dos ladrões no vão livre do Masp, pouco antes de entrarem no prédio e eles não estavam encapuzados - disse, acrescentando que as imagens gravadas são de péssima qualidade e, portanto, terão de ser avaliadas pelo Instituto de Criminalística.
O delegado afirma que mais de três a quatro ladrões agiram no roubo. Segundo ele, do lado de fora foi encontrado um fone de ouvido, usado na comunicação entre os ladrões que estavam dentro do museu e os que estavam do lado de fora, supostamente para avisar sobre a aproximação da polícia ou ajudar no transporte dos quadros.
Contradições
Segundo o delegado, os seguranças do Masp caíram em contradição ao falar sobre o funcionamento do alarme e não souberam dizer se ele existe, se estava funcionando ou desligado ou se estava simplesmente quebrado.
Até mesmo Moura caiu na mesma contradição ao falar sobre o alarme. Primeiro, afirmou não saber se o prédio tem ou não alarme. Depois, lembrou que o roubo não ocorreu em outubro justamente porque o alarme soou. Já no fim da conversa com os jornalistas, o delegado disse que o Masp não tem alarme.
Durante a manhã, funcionários do Masp tinham informado que as imagens gravadas não ajudariam a achar os autores do crime, pois os ladrões estavam encapuzados. O delegado negou a informação e disse que as imagens mostram os bandidos no vão livre sem capuz.
Outra confusão diz respeito à entrada dos ladrões nas salas onde estavam os quadros. O delegado afirmou que os bandidos subiram pela escada e tiveram de quebrar duas portas de vidro para chegar às obras. Mais tarde, afirmou que as portas estavam abertas.
Os seguranças, que não viram a ação dos bandidos, estariam no subsolo e em troca de turno. Apesar disso, o delegado afirma que os seguranças estavam fazendo ronda no prédio.
Moura afirmou que o Masp tem cerca de 30 seguranças, todos eles contratados diretamente pelo museu, e todos têm longo tempo de casa.
- A segurança é feita pelo próprio Masp e os funcionários têm mais de 10 anos de casa. É uma história de vida, por isso, é precipitado falar na participação dos vigias nesta operação - diz o delegado, acrescentando que seria leviano e também precipitado dizer que o sistema de segurança é falho.
Portinari roubado de galeria foi recuperado
O quadro "O Lavrador de Café" não é a primeira obra do pintor Cândido Portinari a ser roubada em São Paulo. Em 24 de novembro de 2005, três homens armados roubaram a tela "Preparando Enterro na Rede", do mesmo autor, da Galeria de Arte Thomas Cohn, nos Jardins, bairro nobre da capital. A obra, avaliada em US$ 1 milhão, foi recuperada dez dias depois.
O patrimônio cultural de São Paulo foi alvo de criminosos por pelo menos três vezes no último ano,antes do roubo no asp. Antes do roubo de duas telas do Museu de Arte de São Paulo (Masp), nesta quinta-feira, a Biblioteca Mário de Andrade, o Museu de Arte Sacra dos Jesuítas de Embu e o Museu do Ipiranga já haviam sido roubados.
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