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terça-feira, 10 de abril de 2007

Centenario de Nascimento de Martinho de Haro - jornal a Noticia


MEMÓRIA
Um gigante quase esquecido
Centenário de Martinho de Haro dispara série de homenagens para resgatar o valor do modernista catarinense
JÉFERSON LIMA
FLORIANÓPOLIS
Três exposições, três livros, dois filmes e um edital de ensaio crítico são os eventos planejados para este ano para comemorar o centenário de nascimento do modernista catarinense Martinho de Haro (1907-1985). Pintor destacado na arte moderna brasileira, o artista é o personagem da comissão dos cem anos formada a partir da Associação dos Amigos do Museu de Arte de Santa Catarina. Há uma semana, o projeto principal foi aprovado pelo Fundo Estadual de Incentivo à Cultura, mas com um redução da cifra apresentada de R$ 500 mil para R$ 400 mil.
Com este valor, a comissão vai produzir um livro-inventário de 600 páginas, com praticamente um terço das pinturas produzidas pelo artista. A publicação, com mil exemplares, será ilustrada com 600 reproduções dos trabalhos de Martinho com obras de acervos da família, de particulares e de instituições públicas e privadas, além de conter uma biografia e estudos críticos.
Denominado “Martinho de Haro – Edição Comemorativa”, o livro está em fase de elaboração. Já há um levantamento do paradeiro da maior parte das telas do artista, mas a comissão do centenário disponibilizou um e-mail para localizar o maior número possível de obras do artista: acervomasc@fcc.sc.gov.br.
Um segundo livro vai ser “Martinho de Haro – Pintor de Florianópolis”, com 60 paisagens, principalmente urbanas com edição de dois mil exemplares e contendo uma biografia resumida e um breve estudo crítico. Os dois livros serão distribuídos para escolas e bibliotecas.
O terceiro evento dos cem anos é uma exposição que vai ocupar todo o Museu de Arte de Santa Catarina (Masc), na Capital, e será realizada durante três meses, entre setembro e novembro, com seminários e mesas redondas. Segundo o professor João Evangelista de Andrade Filho, integrante da comissão, a exposição vai exibir pelo menos 200 obras.
Outras duas mostras serão realizadas simultaneamente, também na Capital. No Museu Victor Meirelles, dedicado à arte sobre o papel, serão exibidos desenhos do pintor, e no Museu Histórico de Santa Catarina – Palácio Cruz e Sousa, será criada uma ambientação com objetos, fotografias e desenhos e pinturas de Martinho, recriando o ambiente do ateliê do artista. O projeto dos cem anos será lançado oficialmente em maio, no Teatro Álvaro de Carvalho (TAC).
Ainda este mês, a Fundação Franklin Cascaes pretende lançar o Prêmio Nacional de Ensaio Crítico Martinho de Haro, com lançamento de um livro com o texto vencedor em 11 de novembro, aniversário do artista. É possível também que a fundação produza um documentário sobre a vida do pintor. O filho de Martinho, o poeta e também artista Rodrigo de Haro planeja dirigir um filme sobre a obra do pai e acredita que os dois projetos cinematográficos sejam transformados em um só. Rodrigo não planeja um documentário jornalístico. Ele pretende fazer um filme em que o foco principal sejam as pinturas deixadas por seu pai.
Para Rodrigo, “ainda não se atentou para a dimensão de Martinho para o modernismo brasileiro”. Ele, que conviveu 45 anos com o pai, diz que presenciou as referências especiais de Di Cavalcanti à obra de Martinho e à influência do modernista catarinense na obra de Pancetti. “O que foi aprovado para produção dos eventos ainda é muito pouco. Acho que somos ainda filhos da lua, vivemos na penumbra cor de leite e com o espírito muito vago”, diz o artista, que ainda espera que a sensibilidade de empresários amigos de Martinho viabilize a itinerância da exposição do Masc por grandes museus nacionais em 2008.
Rodrigo avalia que um grande artista não prospera isoladamente e a existência de Martinho de Haro é a indicação de um grande círculo de ouro nas artes plásticas de Santa Catarina. Na opinião dele, é preciso destacar ainda o idéario modernista dos artistas de seu tempo, que integraram um círculo de arte moderna com a criação do Museu de Arte Moderna de Santa Catarina em 1949, e a sensibilidade de Martinho ao registrar Florianópolis, a cidade que escolheu para viver.

jeferson.lima@an.com.br

BIOGRAFIA
Martinho de Haro (ao lado, em auto-retrato de 1928) nasceu em São Joaquim em 1907. Aos 20 anos, estudou na Escola Nacional de Belas Artes, onde foi aluno de Henrique Cavalleiro e Rodolfo Chambelland. Em 1937, conquistou o prêmio de viagem à Europa no Salão Nacional de Belas Artes. Seguiu então para Paris, e lá estudou com Othon Friesz, na Academia da Grande Chaumière. Com os problemas gerados pela Segunda Guerra Mundial, interrompeu os estudos em 1939. De volta ao Brasil, fixou-se em Florianópolis. Morreu em 1985.

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Sem preconceitos
Outro projeto para marcar o centenário de Martinho de Haro é um livro com 680 desenhos do artista, que também será distribuído para escolas e bibliotecas. Este produto não está incluído nos R$ 400 mil aprovados pelo Fundo Estadual de Incentivo à Cultura.
Recuperados, catalogados e digitalizados por Kezia Lenderly, a coleção de desenhos pertence à família De Haro. Kezia relembra que Martinho desenhava compulsivamente e não tinha preconceito com o suporte: utilizava desde papel de pão a papéis sofisticados.
Nos desenhos recuperados por Kézia há imagens de casario, mulatas, cavalos, muitos nus (sempre o feminino) e igrejas. Há ainda estudos para as pinturas em óleo sobre tela, eucatex e madeira criados pelo pintor. (JL)

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